Sionismo: Um Momento de Mudança
Autora: Marina Rozenberg Koritny, Chefe do Departamento de Incentivo para Aliá da Organização Sionista Mundial
Na véspera do 39º Congresso Sionista Mundial, somos obrigados a falar a verdade, por mais desconfortável que seja. O povo judeu está vivenciando um momento de verdade — um que exige não apenas uma correção de curso, mas uma reavaliação da própria essência do sionismo moderno.
Uma Dupla Crise
Após 7 de outubro de 2023, os judeus da diáspora enfrentaram uma situação não vista desde a Segunda Guerra Mundial. Uma onda de antissemitismo varreu os países ocidentais com tal força que crianças judias têm medo de ir à escola, sinagogas se transformaram em fortalezas, e simplesmente usar uma kipá na rua tornou-se um ato de coragem cívica.
Estamos testemunhando políticos usando abertamente retórica anti-israelense para ganhar votos. O candidato a prefeito de Nova York, Zohran Mamdani, declara que não reconhece Israel como um “estado judeu” e o acusa de genocídio. Enquanto isso, os crimes do Hamas de 7 de outubro estão sendo deliberadamente apagados da memória pública. Quanto maior a parcela do eleitorado muçulmano, mais perigosa a situação se torna para os judeus — e mais alto soa a retórica anti-israelense em todos os níveis de governo.
Mas, pela primeira vez na história sionista, essa ameaça é acompanhada por outra — crescentes dúvidas sobre o próprio Israel como a solução para a questão judaica. Uma guerra prolongada sem um desfecho claro, caos político, falta de consenso interno e alto custo de vida — tudo isso soma ao sintoma mais alarmante: um saldo migratório negativo. Em 2023, ele atingiu 58.600 pessoas; nos primeiros oito meses de 2024, 36.900. Israelenses estão deixando — e não retornando.
Isso mina a própria fundação da ideia sionista. Como podemos persuadir um judeu de Paris ou Londres a se mudar para um país que seus próprios nativos estão deixando? Como podemos falar sobre cumprir o sonho sionista quando aqueles que já o cumpriram estão se desiludindo?
O Que Não Funciona Mais
Por muito tempo, o movimento sionista confiou em dois fatores: medo e nostalgia. Esperávamos que o antissemitismo “empurrasse” os judeus em direção à aliá. Apelamos para a memória histórica e trauma. Dissemos, “Você não tem escolha — apenas Israel.”
Esta estratégia se esgotou. Repatriação por desespero produz uma aliá instável. Uma pessoa que vem porque está fugindo, e não porque está escolhendo, deixará ao primeiro sinal de dificuldade. Além disso, a geração mais jovem de judeus da diáspora escolhe cada vez mais não Israel, mas a assimilação. Eles não veem a identidade judaica como um valor pelo qual vale a pena pagar um preço social.
Estamos perdendo a guerra da informação. Nos campi universitários, nas redes sociais e em círculos progressistas, uma postura anti-israelense tornou-se um marcador de superioridade moral. Jovens judeus no Ocidente enfrentam uma escolha: ser uma “boa pessoa progressista” ou apoiar Israel.
Não podemos ignorar a realidade econômica também. A repatriação exige sacrifício. Israel é um dos países mais caros do mundo. Moradia é inacessível. Os salários em muitas profissões são mais baixos do que no Ocidente. Para um profissional bem-sucedido, a aliá significa uma queda no seu padrão de vida. Sem uma conversa honesta sobre isso, estamos fadados ao fracasso.
Repatriação por Convicção
O 39º Congresso enfrenta a tarefa de formular um novo paradigma. Devemos passar da repatriação por necessidade para a repatriação por convicção. De uma aliá movida pelo medo para uma aliá movida pela escolha. De esperar passivamente por crises para construir ativamente a conexão.
Isso requer trabalho sistemático em três direções principais.
Conexão Espiritual com Israel
É impossível amar um país que você não conhece. É impossível se sentir parte de um povo cuja língua é estrangeira para você. Hebraico não é apenas um meio de comunicação — é a chave para a civilização judaica, um canal de auto-identificação nacional, uma ponte entre gerações.
Devemos criar uma rede global de ulpans — tanto físicos quanto online. Aprender hebraico deve se tornar a norma para toda criança, adolescente e adulto judeu. Não necessariamente para se mudar para Israel amanhã, mas para se sentir conectado hoje.
Precisamos de programas educacionais de longo prazo que introduzam as pessoas à sociedade israelense em toda a sua complexidade. Não tours de propaganda, mas imersão genuína — através de estágios, estudos, trabalho voluntário e projetos conjuntos. Todo judeu na diáspora deve ter a oportunidade de “experimentar” Israel antes de decidir se faz aliá.
Cultivando Liderança
As comunidades judaicas na diáspora precisam de uma nova geração de líderes — não aqueles que repetem slogans antigos, mas aqueles que podem falar com a juventude de hoje em sua língua, que entendem os desafios da cultura pós-moderna e que podem transmitir o valor da identidade judaica sem depender apenas da memória do Holocausto.
Programas de liderança devem treinar “embaixadores de Israel” para campi, mídia e redes sociais — jovens judeus capazes de defender não apenas o direito de Israel existir, mas também sua realidade complexa. Pessoas que não têm medo de reconhecer as falhas de Israel, mas permanecem firmemente comprometidas com os princípios sionistas.
Realidade Econômica
Não podemos exigir idealismo das pessoas sem oferecer suporte prático. Aliá não deve significar pobreza. Precisamos de programas para adaptação econômica, moradia acessível para novos imigrantes, assistência no reconhecimento de credenciais e apoio no emprego.
Empresas israelenses devem recrutar ativamente profissionais da diáspora com condições competitivas. Devemos possibilitar uma “aliá suave” — trabalho remoto para empresas israelenses, realocação gradual e manutenção de laços com o país de origem durante a transição.
Uma Mensagem para Israel
Tudo isso será inútil se o próprio Israel não se tornar um lugar para onde as pessoas queiram se mudar. Devemos ser honestos: o principal obstáculo para a aliá hoje não são apenas as ameaças enfrentadas pela diáspora, mas também a condição do próprio Israel.
O caos político desencoraja potenciais recém-chegados. A ausência de consenso interno sobre questões fundamentais cria uma sensação de instabilidade. A crise habitacional torna a aliá economicamente irrealista para muitas famílias. A burocracia transforma a integração em um pesadelo.
Se queremos aliá, devemos construir um país digno dela. Israel não deve ser o último refúgio dos desesperados — deve ser a primeira escolha dos inspirados.
Isso significa reforma. Moradia acessível. Integração eficaz. Investimento em educação e infraestrutura. Combate à corrupção e burocracia. Restaurar um consenso cívico sobre o que deve ser um Israel judeu e democrático.
Uma Agenda para o Congresso
O 39º Congresso Sionista Mundial não pode se limitar a declarações. Precisamos de um plano de ação concreto, mensurável e financiado.
Proponho as seguintes iniciativas:
- Criação de um Fundo Global de Estudos de Hebraico — com um orçamento para abrir 100 novos ulpans em três anos e desenvolver uma plataforma online para um milhão de usuários.
- Programa “Jovens Embaixadores de Israel” — seleção e treinamento anual de 1.000 jovens líderes da diáspora para trabalho em campi, na mídia e em comunidades.
- Fundo de “Aliá Suave” — apoio para estágios, trabalho remoto e programas de residência temporária para aqueles considerando a aliá.
- Pacote de Apoio Econômico para Novos Imigrantes — moradia subsidiada, assistência ao emprego, reconhecimento simplificado de credenciais e benefícios fiscais.
- Sistema de Monitoramento e Responsabilidade — avaliação anual da eficácia do programa com relatórios públicos para as comunidades judaicas.
Cada iniciativa deve incluir alocações de orçamento específicas, cronogramas e indicadores de desempenho.
Última Chance
Corremos o risco de perder uma geração inteira. Jovens judeus na diáspora estão se distanciando de Israel mais rápido do que podemos responder. A assimilação está acelerando. O antissemitismo está crescendo — mas, em vez de fortalecer os laços com Israel, cada vez mais leva ao desejo de esconder a própria judaicidade.
Se continuarmos a agir de acordo com os padrões antigos, em dez anos o movimento sionista se tornará um clube de idosos nostálgicos, enquanto uma grande parte do povo judeu perderá sua conexão com suas raízes e com Israel.
O 39º Congresso não é apenas mais um encontro — é um ponto de virada. Devemos escolher: ou mudamos radicalmente nossa abordagem, ou aceitamos o inevitável desvanecimento da ideia sionista em sua forma clássica.
Esta escolha deve ser consciente. E diz respeito não apenas aos judeus na diáspora escolhendo entre sua pátria atual e Israel — diz respeito a nós, os participantes deste Congresso. Devemos escolher conscientemente o futuro pelo qual estamos prontos para lutar — um futuro onde a aliá não é uma fuga, mas um retorno ao lar; não um ato de desespero, mas a realização de um sonho.
O sionismo sempre foi uma ideia revolucionária. Agora é hora de uma nova revolução — uma revolução de escolha consciente, conexão profunda e retorno genuíno.
Temos as ferramentas. Temos as pessoas. Entendemos o problema.
Teremos a vontade de agir?

