Em 22 de julho de 1878, em Varsóvia, numa família judia assimilada dos Goldschmidts, nasceu Henryk, nomeado em homenagem ao avô médico, mas que entrou para a história como Janusz Korczak – um pedagogo, escritor e humanista excepcional, cuja vida se tornou um símbolo de dedicação e amor pelas crianças.

Infância e primeiros passos

Henryk cresceu em Varsóvia, que na época fazia parte do Império Russo. Estudou em uma ginásio russo, onde as aulas eram ministradas em russo. Ainda como estudante, começou a trabalhar como tutor. Aos 15 anos, já demonstrava talento pedagógico, encontrando uma abordagem para cada aluno e tornando as aulas interessantes.

Aos 18 anos, Henryk publicou seu primeiro artigo “Nó de Górdio” em uma revista semanal. Nele, questionava quando os pais começariam a educar seus próprios filhos, sem transferir a responsabilidade para outros. O artigo impressionou tanto o editor que ele ofereceu ao jovem autor uma coluna própria. Foi então que Henryk adotou o pseudônimo Janusz Korczak, pelo qual seria conhecido mundialmente.

A jornada do médico e pedagogo

Em 1898, Korczak ingressou na faculdade de medicina da Universidade de Varsóvia. Durante as férias, viajou para a Suíça para estudar as ideias do grande pedagogo humanista Johann Pestalozzi. Após se formar em medicina em 1905, Korczak foi convocado para o front da Guerra Russo-Japonesa. Após retornar, continuou sua prática médica, trabalhando em um hospital infantil judeu e como educador em acampamentos de verão.

Porém, em 1910, Korczak fez uma escolha que definiria seu destino: deixou a medicina para fundar a “Casa dos Órfãos” para crianças judias em Varsóvia. Na Polônia, onde o antissemitismo era uma realidade cotidiana, os órfãos judeus precisavam de apoio especial. Graças à popularidade de Korczak como escritor, ele atraiu patronos que ajudaram a construir o orfanato. Aqui, ele implementou suas ideias pedagógicas, criando um ambiente de cuidado, respeito e aprendizado para as crianças.

Eretz Israel e sonhos não realizados

Em 1934 e 1936, Korczak visitou Eretz Israel. Foi inspirado pelos kibutzim, seus princípios de igualdade e comunidade. Ele sonhava em se mudar para Jerusalém, aprender hebraico e escrever um livro sobre os halutzim – os pioneiros que estavam revivendo a pátria judaica. Mas o amor por seus protegidos era mais forte – Korczak não conseguiu deixá-los por muito tempo.

A Segunda Guerra Mundial e o Gueto de Varsóvia

Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, a vida de Korczak e seus protegidos mudou para sempre. Quando os nazistas entraram em Varsóvia, ele lutou por cada pedaço de comida e roupa para as crianças. Em 1940, a “Casa dos Órfãos” foi transferida para o Gueto de Varsóvia. Korczak arriscou sua vida para obter alimentos e medicamentos, e as crianças continuaram aprendendo hebraico e os fundamentos do judaísmo, mantendo a esperança mesmo em condições desumanas. Os poloneses, admirados por seu talento, ofereceram várias vezes esconder Korczak, mas ele recusou, não querendo abandonar seus protegidos. Seu diário, escrito no gueto, tornou-se um testemunho trágico daqueles dias.

O último caminho

Em 6 de agosto de 1942, os nazistas levaram 192 crianças da “Casa dos Órfãos”, Korczak, sua colega Stefania Wilczynska e outros educadores para o campo de extermínio de Treblinka. Na estação ferroviária, um oficial alemão ofereceu salvação a Korczak, reconhecendo-o como um famoso escritor. Mas Janusz Korczak recusou. Ele permaneceu com as crianças até o fim, compartilhando seu destino na câmara de gás.

Legado

Janusz Korczak não é apenas um nome na história. Ele é um símbolo de fidelidade ao dever, amor pelas crianças e coragem diante do mal. Suas ideias pedagógicas sobre educação através do respeito e liberdade continuam a inspirar professores ao redor do mundo. Neste dia, lembramos o homem que mostrou que mesmo nos tempos mais sombrios é possível ser uma luz para os outros.